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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Tristeza ou depressão?





Achei muito interessante e pertinente esta reflexão que nos propõe o psicanalista Flávio Gikovate.
Compartilho com vocês desejando que se beneficiem de sua enorme experiência e sabedoria.

Boa reflexão!

Quem trabalha na área sabe que somos seres bio-psico-sociais. Acontece que cada um tem suas preferências teóricas e assim existe a “turma” do bio, a do psico e a do social.

A depressão é um problema para todos os que não sabem operar com as 3 variáveis ao mesmo tempo. Os psiquiatras clínicos (“bio”) acham que quase tudo depende da concentração da serotonina nas sinapses cerebrais: quando ela fica baixa, nos sentimos fracos e tristes e passamos a ver a vida pela ótica pessimista, que acaba interferindo sobre o estado mental e sobre nossas relações interpessoais.

Os psicoterapeutas (“psico”) acham que quase tudo depende de conflitos íntimos derivados de experiências dolorosas na infância e adolescência: inseguranças sexuais, baixa autoestima dentre tantas condições negativas nos deixam tristes, incompetentes para o amor e para as boas relações sociais, condição na qual também nos sentimos deprimidos.

Os sociólogos (“sociais”) acham que quase tudo acontece por força das circunstâncias que nos rodeiam: criamos um meio social mais voltado para a produção e o consumo e nosso habitat, exigente e cada vez mais difícil, nos leva a um estado depressivo por não estarmos de acordo com todas as expectativas (riqueza, magreza etc.).

Nunca me filiei a escolas e tenho horror a dogmas. Fui dos primeiros a ver a depressão como um tema complexo: as pessoas estão crescendo mais frágeis por força de uma educação mais permissiva e não estão sendo capazes de lidar com as pressões sociais, que só têm crescido. Isso faz com que a incidência de quadros depressivos esteja crescendo efetivamente.

Os médicos não sabiam fazer diagnóstico que, de fato, se tornou mais acurado (em parte, é verdade, por pressão da indústria farmacêutica, interessadíssima em vender os novos antidepressivos) e isso também modificou o número de casos de depressão.

Qualquer que seja a causa, psicológica ou social, ao longo do tempo, sempre existem repercussões sobre os neurotransmissores cerebrais e o uso de antidepressivos pode ajudar a aliviar a dor mesmo naqueles casos em que os problemas são concretos e objetivos, para os quais a psicoterapia também está indicada.

A concomitância de psicoterapia com o uso de antidepressivos é algo que faço desde 1967 e ainda hoje muitos psicanalistas (e alguns psiquiatras clínicos) acham prática indevida.

É claro que as depressões podem acontecer por força de perturbações originárias de predisposições orgânicas (familiares ou não) e aí acontece o contrário: a pessoa deprimida enxerga mal a si mesmo e sua realidade.

Minha convicção é a de que se trata de um caminho de mão dupla: perturbações na química cerebral alteram a forma de pensar ao passo que pensamentos equivocados, derivados de conflitos psicológicos íntimos ou de se ter que viver num meio social inóspito, provoca alterações na química do cérebro.

Apesar de não parecer, o pensamento é o subproduto misterioso da atividade cerebral. Um subproduto curioso uma vez que ganha poderes próprios, inclusive para interferir na atividade cerebral.

É tudo muito complexo e a questão não cabe numa fórmula simplista. Assim, cada caso é um caso que deve ser estudado detalhadamente. O ramo é mais parecido com a “alta costura” do que com o “prêt-à-porter”.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Desenvolvimento Emocional: Caminho para a Plenitude do Ser


"Se eu não sentisse, não sofreria". Esta é ainda uma crença muito comum para muitas pessoas. Acredita-se, erroneamente, que sentir é sinônimo de sofrer e consequentemente não sentir é uma maneira de evitar a infelicidade.

Cada vez mais, um maior numero de pessoas ao menor sinal de tristeza, corre para o consultório de um psiquiatra buscando uma receita de antidepressivo. Outros buscam no álcool, nas drogas, na comida, nas compras, no sexo, de maneira compulsiva e exagerada, o mesmo efeito: Evitar o sentir.
Ao entorpecermos a nossa capacidade de sentir, estaremos, ao contrário do que desejamos, aumentando o nosso sofrimento, pois se a boca não fala, o corpo, este sim, dará um jeito de falar! Optando pelo não sentir, inevitavelmente, a doença será o caminho para exteriorizar as emoções reprimidas. Portanto, a repressão dos sentimentos não diminui o sofrimento, pelo contrário, ela o aumenta.

Assim como o nosso corpo e a nossa mente necessitam de espaço para crescer e expandir, nossos sentimentos também necessitam de espaço para que possam amadurecer e principalmente para que tenhamos coragem de amar. Quando os sentimentos são tolhidos, o amor não pode crescer. Independente de religião ou filosofia, todos nós sabemos que o amor é a energia mais potente e curadora que existe! Mas como podemos amar se não nos permitimos sentir? O medo do sofrimento nos faz muitas vezes ficar em estado de isolamento. Evitamos o envolvimento pessoal temendo arriscar e nos decepcionar. 

Mas o que de fato nos impede de sentir? Quando crianças, vivenciamos situações de tristeza, medo, frustração e rejeição. O sofrimento e o despontamento são recorrentes e inevitáveis. Criamos assim, de maneira inconsciente, desde os primeiros anos de vida a falsa crença: "Se eu não sentir, não serei infeliz."

Em Psicologia fala-se muito da criança interior, ou seja, esta parte do nosso ser, da nossa psique que não evoluiu, não "cresceu" e permaneceu com a mesma capacidade que tínhamos de resolver nossos problemas e dificuldades quando éramos de fato crianças. Sempre recomendo aos meus pacientes para se sentarem no chão e olharem para cima para se lembrarem de quando eram de fato crianças, como tudo e todos eram muito maiores do que eles e principalmente, do quanto se sentiam impotentes e sem poder de decisão, pois uma criança decide muito pouco ou quase nada. Vale salientar que a nossa criança interna desconhece a existência do adulto que também somos. Por isso muitas vezes, mais do que imaginamos, desistimos de nossos desejos, sonhos e projetos, pois os olhamos de baixo para cima, ou seja com a nossa criança interior.

Quando assim o fazemos, é inevitável pensarmos: Não dou conta! Aliás, ouço muito esta frase em meu consultório! Não dou conta de arriscar mudar de emprego. Não dou conta de arriscar e me envolver neste relacionamento. Não dou conta de ser mãe e profissional. Não dou conta de correr atrás do meu sonho. Não dou conta...
Meus queridos, a nossa criança não dá conta mesmo mas o adulto que somos quando toma posse de sua maturidade e de todos os seus talentos e aprendizados acumulados ao longo da vida, este sim, dá conta e pode sim decidir o que de fato deseja fazer ou não fazer. É forte o suficiente, "grande" o suficiente para dizer: "ok, estou com medo mas sou capaz, dou conta deste medo e vou tentar, vou arriscar e ficar tranquilo que seja qual for o resultado, terá valido a oportunidade que me dei fazendo a minha parte para alcançar o meu objetivo.

Desejo que se arrisque e faça tudo o que estiver ao seu alcance para atingir todos os seus objetivos.