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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Companheiros de viagem


Existem muitas expressões para o relacionamento terapêutico: paciente e terapeuta, cliente e terapeuta, analisando e analista, cliente e facilitador, etc. Por não me identificar integralmente com nenhuma dessas opções, decidi denominar a relação que estabeleço com cada pessoa que me procura como "companheiros de viagem".


Há muitos anos, li em um livro de Milton Erickson sua visão sobre o processo terapêutico e até hoje sou influenciada por ela. Ele relata que quando jovem morava em uma fazenda. Um dia, apareceu um cavalo sem marca alguma que identificasse o seu dono. Erickson sabiamente montou o cavalo e colocou-o na estrada. Após algum tempo, chegaram a uma outra fazenda e o dono surpreso perguntou-lhe como havia descoberto que o cavalo o pertencia. Ao que Erickson respondeu que não sabia, apenas cuidou para que o cavalo se mantivesse na estrada.


Essa história é na verdade uma bela metáfora para o processo terapêutico, pois coloca em evidência que o trabalho do terapeuta é de acompanhar a pessoa velando para que ela não se desvie da estrada que a levará ao encontro de si mesma em sua expressão mais plena e autêntica.


Certo, é necessário conhecimento teórico, conhecimento técnico e acima de tudo a prática cotidiana que é a grande responsável pela maturidade e pelo crescimento do terapeuta.

Esse tripé sem dúvida contribui para o sucesso da terapia. Porém, em minha prática clínica procuro sempre criar uma terapia para cada pessoa. Sou contra à terapia padronizada, ou seja, uma terapia uniforme para todos os indivíduos. Pois acredito que o sucesso do processo terapêutico advém justamente de algo "sob medida", criado especialmente para aquele indivíduo.


Do ponto de vista de quem procura atendimento terapêutico são necessárias basicamente três posturas: dedicação, comprometimento e principalmente, transparência. O que muitas vezes leva a pessoa a ocultar do terapeuta algumas informações sobre ela, é a fantasia de que será julgada e não mais aceita (amada) por ele.


Baseando-me nesta constatação, acredito ser importante deixar claro que não cabe ao terapeuta fazer julgamento e sim dar apoio incondicional! Isso não significa "passar a mão na cabeça" de quem vem até nós mas sim de enxergá-lo com respeito e sobretudo de ajudá-lo a fazer escolhas mais positivas e construtivas em seus relacionamentos interpessoais.


Recentemente tive uma experiência bastante dolorida em um processo terapeutico que fiz. Mas tenho que reconhecer que foi extremamente positivo para a minha formação enquanto profissional e sou muito grata por isso! Aprendi na prática que o que evita o julgamento é a empatia, ou seja, ver o mundo com os olhos de quem nos procura. Fácil? Em hipótese alguma! Mas quando nos propomos a ser companheiros de viagem de alguém, esta é sem dúvida a principal postura de um terapeuta eficiente.