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terça-feira, 14 de junho de 2011

Adriana di Roque: Podemos Amar sem se Amar?

Adriana di Roque: Podemos Amar sem se Amar?

Podemos Amar sem se Amar?

Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não podemos crescer emocionalmente. Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.

Fernando Pessoa


A entrevista abaixo, traduzida da revista eletrônica Psychologies com o psicólogo e sociólogo francês Jacques Salomé, nos convida a fazer uma reflexão sobre nossa autoestima. Leia, reflita e seja honesto consigo mesmo, respondendo com sinceridade emocional se você vem se amando e se respeitando de fato. Pois, como você irá constatar em seguida, amar a si mesmo é condição fundamental para ter um relacionamento saudável.

Boa leitura e meu desejo sincero que você decida SEMPRE se amar!

Psychologies: Como se manifesta a falta de amor próprio nas relações com os outros e no relacionamento amoroso?

Jacques Salomé: A falta de amor próprio - este amor feito de auto-cuidado e de respeito - tem consequências diretas nas nossas relações com o outro. Ela se traduz como falta de confiança em si mesmo, de dúvidas e de desconfiança em relação ao outro que vão gerar ou manter relações à base de aprovação e de possessividade ou relações do tipo perseguido-perseguidor. Se eu não me amo, eu não poderei amar, pois eu estarei vivendo na necessidade e na exigência de se amado.

Na falta do amor próprio estamos sempre presos na engrenagem "pedir-exigir" ou na de "recusar, porque não é suficiente". Nestes dois casos, temos uma grande dificuldade em oferecer. Quando nós não nos amamos, acreditamos que não temos nada de interessante e de valor para dar e quando nós damos um pouco, temos a sensação de termos sido esvaziados, de termos ficado com menos.

Psychologies: As relações baseadas na falta de amor próprio são destinadas ao fracasso?

Jacques Salomé: Esta é uma constatação que percebemos o tempo todo. Nos casais, aquele que não se ama vai terminar usando e depois destruindo a confiança do outro em relação à ele. O parceiro provedor de amor vai, por sua vez, começar a duvidar - antes de se cansar definitivamente de dar provas de amor sem reciprocidade. Este tipo de relação é um jogo louco de espelho, que se baseia em uma missão impossível: tentar patéticamente dar ao outro aquilo que somente ele próprio poderia se ofercer, ou seja, o amor próprio.

A falta de amor próprio se traduz essencialmente pela busca de um parceiro pelo qual nós iremos tentar ser amados a qualquer preço. Estas escolhas, que são na maioria do tempo inconscientes, se fundamentam sobre uma espécie de extorsão de afeto. Tudo se passa como se um dissesse ao outro: Eu tenho tanta necessidade de você e enquanto você corresponder à esta necessidade, eu estarei presa a você". O outro poderia responder: " Eu sinto bem lá no fundo que você não me ama, mas eu tenho fé que graças ao meu amor, você me amará um dia". É importante ressaltar que na relação amorosa, a falta de amor próprio gera frequentemente um jogo de desqualificação mútuo. Aquele que não se ama, colocará em dúvida o amor do outro: Como ele pode amar alguém tão despresível como eu? E conclui: Ele é mais desprezível do que eu pensava". Isso acontece de forma inconsciente mas violenta as relações íntimas.
Esta falta de amor próprio pode também tomar uma forma de devoção, se traduzindo por uma necessidade de amar a qualquer preço. Mas este "dom" de amar, não passa de uma máscara, de uma enorme necessidade de ser amado que jamais será satisfeita. Assim, uma paciente me confiou que os   "eu te amo" incessantes de seu marido a deixavam desconfortável, pois ela os sentia como uma exigência ameaçadora, uma violência que contradizia o que poderia existir de bom e de protetor na relação deles. Quando ela se separou dele, ela perdeu em dois meses, vinte quilos que ela havia acumulado inconscientemente para se proteger daqueles "eu te amo" terroristas.
Psychologies: O amor do outro pode suprir a falta de amor próprio?

Este é um de nossos desejos mais absurdos. É uma utopia. O amor do outro pode dar a impressão de preencher esta ausência de não saber se amar, recobrindo o véu da angústia com um véu de ternura e de segurança aleatórios mas isto é uma ilusão tanto perigosa quanto vã. Quando não nos amamos, estamos sempre esperando um amor incondicional e este tipo de demanda conduz invarialvelmente a colocar à prova o amor do outro constantemente, sem descanso. É se obrigar a viver em permanência com um frio na barriga e na incerteza de ser realmente amado.
É por isso que eu digo que o maior presente que podemos dar a uma criança nem é tanto o de amá-la e sim o de ensiná-la a se amar!

Psychologies: Qual é a particularidade de uma relação na qual ambos os parceiros se amam a si mesmos suficientemente para abordar o encontro amoroso e em seguida o casamento?


Jacques Salomé: A possibilidade de criar juntos uma relação viva e criativa, que abre as portas para todas as possibilidades do amor. Em uma relação, que eu simbolizo por uma echarpe, eu chamo a atenção para o fato que somos sempre três: o outro eu e a relação que existe entre nós. Em uma relação disfuncional, um espera que o outro dê o start. Já numa relação respeitosa das possibilidades de cada um, cada parceiro se torna responsável pelo seu start na relação e pode se definir e se posicionar sem ter a necessidade de definir ou de alienar o outro.
Este posicionamento reponsável é o antídoto contra a dependência, a frustração e o conflito desestruturador. Nos permite ter acesso à nossa criatividade, nossa independência e nossa liberdade de ser. O amor prório nos faz alcançar na relação com o outro, as melhores de todas as possibilidades, as nossas e as do parceiro.