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segunda-feira, 14 de novembro de 2011


A grande poetisa Cora Coralina nos deixa um legado de sabedoria com muita doçura, pois se achava mais doceira do que escritora. Considerava os doces cristalizados de caju, abóbora, figo e laranja, que encantavam os vizinhos e amigos, obras melhores do que os poemas escritos em folhas de caderno. Só em 1965, aos 75 anos, ela conseguiu realizar o sonho de publicar o primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas viveu por muito tempo de sua produção de doces, até ficar conhecida como Cora Coralina, a primeira mulher a ganhar o Prêmio Juca Pato, em 1983, com o livro Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha.

Sem dúvida alguma, um exemplo de força e determinação na dose certa, pois a doçura de suas palavras tocam fundo o nosso coração! Veja você mesmo.


PODEMOS, QUEM SABE,TENTAR NOS ESPELHAR,NESTA INCRIVEL POETISA.

Um repórter perguntou à Cora Coralina o que é viver bem.

Ela lhe disse:

"Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.

E digo prá você, não pense.

Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha.

Eu não digo.

Eu não digo estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco.

É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.

Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer

as dificuldades da vida.

O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.

O bom é produzir sempre e não dormir de dia.

Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.

Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima.

Eu não digo nunca que estou cansada.

Nada de palavra negativa.

Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.

Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio!

Sei que tenho muitos anos.

Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades,

mas não sei se sou velha não.

Você acha que eu sou?

Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser.

Filha dessa abençoada terra de Goiás.

Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos.

Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo.

Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha

própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto,

pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.

O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.

Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.

Digo o que penso, com esperança.

Penso no que faço, com fé.

Faço o que devo fazer, com amor.

Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar,

ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida,

que o mais importante é o decidir.".

(_Cora Coralina_)